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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

PERÚ - 20017 - 4

AMAZÓNIA PERUANA

4 a 9 Novembro 2017

Depois de uma noite de descanso em Lima, um voo doméstico de menos de duas horas deixou-nos no pequeno aeroporto de Jaén 

onde nos esperavam os que foram os nossos companheiros de aventura nestas paragens: Walter (motorista), Jhefri (guia) e Romel (tradutor, porque o espanhol, por estes lados, é uma língua um pouco mais arrevesada...).
As 4 horas de viagem fizeram-se agradavelmente, com paragem para almoço num pequeno restaurante em frente a uma igreja contemporânea.

Na chamada Marginal da Selva, o trânsito é intenso: camiões, automóveis e... tuk-tuks.

Descobrem-se arrozais, rios e montanhas.

O rio Marañon, 
afluente do gigante Amazonas, acompanhou-nos durante bastante tempo.
A Cascata azufrada de Pedro Ruiz
obrigou a paragem pela sua beleza e pelo seu cheiro a enxofre.
A estrada até Cocachimba, pequeno povoado onde se encontra o nosso poiso destes dias, é difícil e com mau piso.
É daqui que se faz o acesso à maior cascata da região, a Cascata Gocta,
com 771m de altura.

O nosso hotel é um resort bem intimista, familiar, com 5 cabanas e uma Casa principal. 
O Gocta Natura está no meio da floresta, silencioso, com muita cor de flores e beija-flores. 
O grande problema, é a ausência de rede de telemóvel. E a internet reduzida a um cantinho da sala da Casa...
A lua está cheia.

Matías Cillóniz é o anfitrião, chef de formação e, com os seus dois cães Border collie, a Lucy e o seu filho Bongo, ajudaram a tornar a estadia bastante agradável.

A nossa cabana (Tangara) é espaçosa 
e tem uma varanda virada para a Cascata.

A noite foi serena e acordámos com a Cascata como cenário.

Com a luz do dia, fomos descobrindo os recantos do nosso poiso.

La Poza, é a pequena piscina virada para a Cascata.

Pontuais, às 7.50h, depois do pequeno-almoço,  
os nossos guias chegaram para nos levar à expedição do dia.

O complexo arqueológico da FORTALEZA de KUÉLAP fica no Cerro La Barreta, a 3000m de altitude, descoberto em 1843 pelo juiz de Chachapoyas, Don Juan Crisóstomo Nieto, que encontrou um muro muito alto construído com pedras muito bem trabalhadas.
O condutor deixou-nos junto do teleférico 
(que tem pouco mais de um ano) que, durante 20 minutos, nos elevou pela montanha, 
sereno, mostrando os campos cultivados de batata 

e o rio Tingo e o rio Choctamal no vale. 

E um autocarro levou-nos até à plataforma onde começa o trilho, que só iniciámos depois de um preventivo chá de folhas de coca.

O trilho é difícil. 

Pode ser feito a cavalo, 
mas preferimos fazê-lo calmamente a pé, fotografando a paisagem.

A primeira visão é a plataforma circular, 
acima do grande muro de pedra, como uma torre de vigia.

O complexo também é conhecido por Babel do Perú.
Seguimos o grande muro de pedra 

que terá surpreendido o seu descobridor. 
A entrada principal 
está em obras de restauro e, por isso, entrámos pela porta por onde passavam as caravanas de fornecimento de víveres.

Bem planificado e organizado, o conjunto inclui recintos de índole administrativa, religiosa, espaços cerimoniais e residências permanentes de grupos de elite e especialistas. 

A arquitectura, 



a cerâmica, os têxteis e utensílios de osso, madeira e outros materiais, encontrados nas escavações, denotam grande actividade no interior da cidade. Pressupõe-se que seria habitada 

por cerca de 3000 pessoas dedicadas à agricultura e ganadaria.
Ainda em exploração, os cartazes mostram metas para 2018 e 2019.

A Civilização Chachapoyas (chachapoyas=homens das nuvens) começou a sua decadência com a chegada dos Incas (no ano 1400) e dizimada no século XVI com os Espanhóis.
No Pueblo Alto do Sector Sul, as casas com função de residência, são ornamentadas, 
no exterior, com efeitos de "olho de felino" e "cobra". 

Dentro encontra-se, geralmente ao fundo, uma plataforma com um pequeno muro de detenção 

que terá sido para a criação de cuys (porquinhos-da-índia). São circulares, espaçosas, 
com paredes de 4,5m de altura que terão sido pintadas e decoradas com desenhos. 
A cobertura de palha era colocada sobre um entrançado de madeira.

O Templo Mayor 
tem 23m de diâmetro e, além dos serviços religiosos também terá servido de ossário.

A visita demorou toda a manhã.
Almoçámos em Nuevo Tingo (existem muitas povoações com o nome de Tingo que significa encruzilhada), no restaurante "Utcubamba", onde tivemos a primeira experiência da comida amazónica. 
"Tacacho com cecina" era o nome do prato. 

Cecina, a carne de porco, magra e seca, que é frita e esmagada com o garfo, para as abrir as fibras. Tacacho, banana verde, cortada aos pedaços, esmagada, temperada com sal e frita na gordura do porco.

As montanhas são mágicas! No caminho de regresso, muito ao longe, escondidos, os Sarcófagos da Piedra Grande (Purunmachos). 
Muitos ainda estarão por ser descobertos.

No dia seguinte, sempre bem cedo, comprámos fruta à beira da estrada,
prevenidos para a viagem longa.

Foram duas horas por estradas de terra batida, 
abertas nas montanhas até à pequena povoação de San Bartolo

ponto de partida para o trilho que nos levará aos MAUSOLÉUS de REVASH.
A chuva começou, de mansinho e, a conselho dos nossos guias, alugámos ponchos de protecção. 

Os cavalos, incluídos no preço da visita, aguardavam-nos, com os seus condutores. 

Mas nenhum de nós quis utilizá-los. No entanto, acompanharam-nos enquanto foi possível. Foi quase uma hora por trajecto empedrado e enlameado. 

O empedramento foi feito pela população local, à moda dos Chachapoyas, até ao avistamento da montanha onde estão os primeiros mausoléus. 

Depois, um estreito carreiro, 

durante mais meia-hora, com a neblina a dançar no vale e nos picos das montanhas.

E ficámos a 100m das estranhas estruturas encravadas na encosta olhando, pasmados, para cima.

As casas funerárias 
são como pequenas vivendas pintadas de vermelho e creme, algumas com três andares e telhado e uma espécie de janelas em forma de T. 

No interior, estão os fardos funerários com as múmias e oferendas, como jazigos familiares.
O seu achado foi fortuito, por um grupo de trabalhadores agrícolas em 1996.

Supõe-se que seriam construídos acessos para sua colocação longe de predadores e ladrões 
e que, depois, esses acessos seriam destruídos e esquecidos.
Muitos ainda estarão por encontrar...

Apesar de serem apenas 6km, a chuva, o peso do poncho e a altitude, dificultaram bastante o trajecto. 

Por isso aceitámos o cavalo, até San Bartolo, para fazer os 3km de regresso, embora também não seja fácil porque o cavalo escorregava no empedrado, quando não era possível desviar para as bermas...
O almoço foi servido pela japonesa Ayako Sakuta que já se adaptou à cozinha local, vivendo

junto do  Museu do Centro Malquis

Este é o melhor local  para compreender o pouco que se sabe da Civilização Chachapoyas, muito bem organizado e ligeiro. Ali se encontram 219 múmias recuperadas da Laguna de Los Condores, 

objectos  e tecidos encontrados nos túmulos.

Um café no "Kentikafe", 

do outro lado da estrada, vale pela observação dos beija-flor!...



Deu para descansar um pouco para nova aventura no dia seguinte...

Uma longa estrada em terra batida, 
cheia de curvas, subindo a montanha. Uma estrada com históriafoi por aqui, algures, que Jose Villacrez, do Sendero Luminoso, 1992, se fez explodir e aos seus companheiros , com uma granada, para não serem capturados. 

Passámos por Luya, a 1715m de altitude
e continuámos até aos 3235m.

Em San Miguel de Cruz Pata
esperava-nos o senhor Gumercindo que foi o nosso guia local. 
Recebeu-nos afectuosamente e tinha botas de borracha para todos (previamente encomendadas pela nossa agência de turismo). 
Já íamos prevenidos para a chuva, com roupa mais leve do que os ponchos de ontem...
Aqui é o ponto de partida para a descoberta dos 
SARCÓFAGOS de KARAJÍA.

Com o senhor Gumercindo, 

o seu cão Bobbi 

e os cavalos e respectivos guias, o Jhefri e o Romel, completavam a caravana, descendo pelo caminho 
feito pela população local, à maneira dos Chachapoyas.

Os campos de batatas, floridos, 

e a importância de algumas plantas 



para a medicina tradicional foram temas de conversa, 

até chegar às memórias de infância do senhor Gumercindo que, diz, estragou muitos achados, na ignorância e inconsciência infantil. Mostrou-nos a árvore onde o arqueólogo  peruano Federico Kauffmann Doig atou uma corda para descer até aos sarcófagos, fazendo uma aproximação por cima, no barranco de Karajía, distrito de Luya, em 1985.

Os cavalos aguardaram 
junto da placa que o Ministério da Cultura colocou.

O carreiro até ao miradouro é estreito e lamacento, 
mas estávamos "bem calçados" e houve o cuidado de colocar apoios de troncos de madeira.

E lá estavam os sarcófagos!



Chegam a ter 2,5m de altura e a estar a 200m nos escavados das escarpas.

Dentro das figuras antropomórficas, com desenhos, encontram-se, como nos mausoléus, os fardos funerários e as oferendas. 
Existem vários grupos em diferentes estados de conservação. 

Alguns foram invadidos por roedores que fizeram muitos estragos.

Só a cabeça e parte do tronco são compactos, As decorações são feitas em dois tons de vermelho, aplicadas sobre uma base branca.

Fizemos questão de visitar o pequeno Museu 
onde estão algumas múmias e objectos de cerâmica encontrados nas escarpas.

Almoçámos em Lámud, restaurante "Monte de Nubes".

O café foi tomado em Chachapoyas, no "Terramia".

CHACHAPOYAS ou San Juan de La Frontera de Los Chachapoyas 
foi fundada pelo espanhol Alonso de Alvarado em 5 de Setembro de 1538. Em Pampa de Higos Urco, na periferia da cidade, afirmou-se a independência de Amazonas do jugo colonial.

Por ruas íngremes, lembrando São Francisco, o Walter deixou-nos no miradouro mais alto e descemos a pé até ao centro.

Do Miradouro de Luyo Urco 
tem-se uma ideia da extensão da cidade desde  o pequeno aeroporto à planície da Pampa de Higos Urco.

Mais abaixo, o Yana Yacu 


(yana=negro, yacu=água, em quechua), o poço que tem lenda:
No século XVI, Santo Toríbio de Mogrovejo, arcebispo de Lima, passou por aqui e, comovido com a falta de água da recém-fundada cidade, bateu três vezes com o báculo nestas rochas e fez brotar o líquido precioso das profundidades da terra.

Também se lhe chama Fonte do Amor porque os solteiros que cheguem à cidade e bebam da sua água, ficam enamorados para sempre das belas chachapoyanas.
No miradouro abaixo, a Capilla Virgen Natividad.

Parámos na moderna Universidade

em frente à Pampa de Higos Urco
onde as pessoas partilham momentos de lazer.

Chegámos cedo ao "Gocta Natura", 

dando para usufruir das muitas caras da Cascata.

O trilho até à Cascata Gocta, de 6km por caminhos irregulares, precipícios e corpo molhado, não nos entusiasmou. Se tivéssemos menos 20 anos...

Apesar das diversas lendas que afastavam as pessoas da Cascata, o explorador alemão Stefan Ziemendorf e alguns peruanos chegaram a ela em 2005. Os acessos são, ainda muito difíceis.
Por isso, optámos por um destino menos radical.

O dia seguinte acordou com nuvens suspensas entre o primeiro e o segundo salto da Cascata, 

e uma folhinha verde com patas na vidraça da janela...

Já o sol desfaz a neblina, no caminho para a Casa.

Fomos conhecer HUANCAS

a localidade da cerâmica artesanal, a 10km de Chachapoyas e 2560m de altitude.
São mulheres, as artesãs do barro.

A argila amarela é misturada com pedra moída e água. Moldada à mão, é decorada com relevos 

(torcidos, ziguezagues e figuras antropomórficas), 
é cozida a céu aberto (cusana).

A olaria que visitámos fica em frente à Plaza d'Armas 

onde várias esculturas fazem homenagem às mulheres oleiras.

A Iglesia Señora de Los Milagros 

é de 1892 e tem uma típica torre sineira que é bem representativa da arquitectura colonial. Simples, o seu interior recebe luz natural 
que ilumina a Arte Sacra com um certo ar ingénuo.

Dois miradouros são atracção para os poucos turistas: Cañon Huancas 

e, mais acima, Cañon del Sonche.

A 2620m de altitude têm o rio Sonche aos pés, 

com montes velhos, arredondados onde nascem pequenas cascatas.

E voltámos a CHACHAPOYAS que pertence ao departamento de Amazonas, nas encostas orientais da Cordilheira dos Andes, banhada pelo rio Utcubamba, afluente do Marañon que, por sua vez, é afluente do rio Amazonas.

No século XV, a Cultura Chachapoyas foi agregada à Cultura Inka, mas foi destroçada com a chegada dos colonizadores. É dessa altura, 1538, que data a Plaza d'Armas que, infelizmente para nós, está com obras de restauro. Os planos fotográficos da Catedral perderam, por isso, a monumentalidade.

Mas o mesmo não aconteceu com as suas ruas calcetadas, 
rectas e prolongadas a partir da Praça,  

e as charmosas varandas coloniais.


A primeira universidade, Universidad Alas Peruanas, fica num edifício colonial que merece visita, a
La Casona Monsante.

O almoço foi noutro espaço bonito, 
"El Tejado", 
onde a comida nos agradou.

A aventura amazónica acabou. No dia seguinte, despedimos-nos da Cascata, 

dos beija-flores 

e das flores do "Gocta Natura".  


Também do Matías e do Bongo 
(a Lucy está de castigo porque fez noitada atrás dos coelhos...).

A noite foi, já em Lima, 
virados para o Pacífico.


* * * 


7 comentários:

quito disse...

Já aqui afirmei que sou suspeito. Suspeito pela amizade que me liga ao casal Daisy e Alfredo. Porém, esse facto não me pode tirar o discernimento de tentar olhar este notável trabalho de uma forma isenta. Trabalho difícil ! Mas acredito que ninguém de boa mente, jamais ousará pôr em causa este fantástico trabalho na sua globalidade desde que "Travel With Us" nasceu. Pela pena e objetiva destes dois amigos o leitor tem corrido mundo. Um saber de experiência feito, permite passear por lugares onde fisicamente jamais vamos estar. Hoje, olhei cascatas, passeei por povoações, subi montanhas e balancei- me nas alturas num teleférico. Olhei, com respeito, a cultura funerária dos povos, numa girândola de informação que não se esgota. Obrigado,meus amigos !

celeste maria disse...

Muita matéria para analisar,tanto em descrição como em imagens!
O amor e uma cabana... Só falta um Mercedes!
Continuai com saúde e disposição para poderem presentear os amigos com as vossas memórias.
Abraços.

Torres de Menezes disse...

ESPECTACULAR!
Vocês lá desencantam estes sítios maravilhosos vá-se lá saber como !!!
Já começámos a jogar na lotaria, no totoloto, no preço certo e no euro milhões para um dia vos podermos acompanhar num destes maravilhosos passeios mas ainda não calhou.
Parabéns e muito obrigado.

São Rosas disse...

Ena, pá! Só de ler, já me doem as pernas (e até aproveitei aquela boleia a cavalo)!

lili disse...

Maravilhoso! adorei! As paisagens, as descrições... muito aprendo eu com estas viagens que além da beleza natural que nos enche a alma, nos dão conhecimentos culturais sem fim.

Obrigada meus Amigos por mais este presente.

Um beijo e um grande abraço para vós.

Saint-Clair Mello disse...

Só através de suas fotos e textos consigo fazer tal percurso. Belíssimas fotos e texto enxuto, tanto que não me molhei aqui, ainda que com toda a chuva que vocês enfretaram. Grande abraço!

Romel Homar Zepeda Valle disse...

Foi um prazer muito grande pra Nós poder acompanhar vocês e mostrar parte da beleza da nossa região, saudades de vocês #Moreirinha Team